ABRE ASPAS: Todos nós precisamos viver um destino que não aquele construído num passado que falhou.

by - dezembro 09, 2018





eu disse que nunca mais escreveria sobre você porque eu precisava ser honesta comigo: minha dor precisava respirar, tirar um tempo, estar em paz.
ou eu, no caso: pegar as malas, fazer uma viagem, mudar meus escritores favoritos, a cor dos dias, os pensamentos sobre você.


confesso a você que, mesmo mudando absolutamente tudo à minha volta, eu tive um pressentimento que voltaria a este ponto, talvez, para me despedir. não me despedir de você, necessariamente. mas daquilo que eu fui com você. sabe, muita gente enlouquece por não entender que o amor é uma projeção de quando tudo fica muito quente, muito manso e muito confortável. daí que, ali, ali naquele ponto-conforto, é que o mundo cresce e vai fazendo um ninho. óbvio que existem amores que coexistem em lugares incomuns, incertos e inexatos. mas o que eu quero dizer aqui é que eu estou me despedindo daquela pessoa desesperada por amor. pois eu ficava esmolando qualquer coisa similar a amor - e isso com todo mundo. só que aprendi, nesse tempo sozinha, que amor é um sentimento que se desperta.
e o cuidado pautando que há amor ali. há resquício de um desejo em estar/continuar.

Mas, ainda sim 

volto aqui neste texto para me despedir do que eu era com você.  das memórias que construímos e que hoje me parecem tão vagas. no calor do amor crescendo dentro da gente, é comum que criemos casas, apartamentos, quadras imensas com seus lares. a sensação de estar amando alguém nos coloca à mesa, servindo-nos do que de melhor há em sonhar com alguém. mas eu volto, hoje, e todos os dias daqui para frente, para me despedir de mim. do que fui com você. do sentimento de que eu era amada, vista, desejada. 



a gente precisa aprender ou entender o momento exato de se despedir daquilo que éramos com alguém. veja bem: não é que de uma hora para outra esquece-se o gosto da língua, o cheiro da roupa, as conversas sobre política e literatura. é só que, em algum momento sagrado e pontual, você precisa tirar aquela capa que cobria vocês. há pessoas que demoram meses para cair na realidade e se despedir de alguém. há outros que demoram anos. há quem não esqueça. e os que querem e precisam, como eu.

QUERO ME DESPEDIR,

não só da cidade, mas do que fui contigo. porque hoje quero ser outra. quero me amar de maneira distinta. quero me compreender de maneira diferente. quero e vou olhar para mim como alguém apta a receber amor de outra pessoa, de outro modo, com outros olhos. você é uma roupa que não me serve hoje, no agora.



me despeço daquilo que eu construí com você e havia sobrevivido ao fim. você sabe, certas coisas ficam sobre nossos ombros quando as relações terminam sem que falemos, gritemos ou expulsemos os discursos, palavras e farpas. quase morri quando não lhe disse o suficiente. mas estou aqui. estamos.



me despeço de você. do que eu era com você. de tudo que deixei sobrar para falarmos algum dia em algum café da cidade. me despeço de cada discurso nutrido pela esperança de reaver uma parte minha que impregnou em você por cada vez que me doei e me entreguei. 
me despeço de você, que agora me assiste partir como quem sabe que todos nós precisamos viver um destino que não aquele construído num passado que falhou.


você é uma roupa que não me serve mais.


- Nicolly Rochavetz.

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